quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Dia-Mãe



Dia-Mãe

Feliz dia dos elefantes voadores
Feliz dia das fadas púrpuras
Dia das pipas encantadas
Das estrelas cadentes, ardentes
Que colheu no jardim
E arderam na palma da mão

Feliz dia do dragão
Do dragão-bom que ficou seu amigo
E do dragão-mal que matou
Com uma lança no peito

Feliz dia das borboletas maiores que composições de trem
E feliz dia do trenzinho elétrico movido a bateria recarregável de imaginação

Feliz dia do futebol de botão, de meia, de vídeo-game, na rua, na quadra
No campo no ombro de seu pai

Feliz dia dos primeiros colonos terrestres em Marte
Do gatinho enrodilhado no colo
Do livro de colorir com cores por inventar
Das palavras secretas segredadas a amigos imaginários inimagináveis

Feliz dia do pião, da bolinha de gude
Do bolo de chocolate com brigadeiro
Da amarelinha, da mãe-da-rua,
Do carrinho que bate-bate
Do pirulito que bate-bate

Feliz dia da mães, dos pais, dos avós, dos irmãos, das irmãs
Dos animais, da Terra, das florestas e das cidades
Feliz dia-mãe de todos os dias - dia esperança -
Feliz dia das crianças!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

As rugas da vovó

O amigo se foi
não volta mais

O amor já se foi
não liga mais

A vida passou
não volta mais

Marca a pele da gente

sábado, 30 de junho de 2012

Tchauzinho


O menino sozinho
no banco de trás do disco voador
passou e deu tchauzinho pra gente,
veio com a família
passar um ano na Terra.

Os pais trabalham na Federação da Galáxias Distantes.
O pai é embaixador do meio-ambiente
e disse para o menino:
Seja discreto
esses terráqueos são perigosos
se nos descobrem
nos transformam em combústivel fóssil!

A mãe é embaixadora da paz
e disse para o filho:
Seja discreto
esses terráqueos são perigosos
se nos descobrem
viramos arma secreta!

Mas criança é criança
e, na hora de ir embora, não resistiu,
no que o que pai diminuiu
pra pegar a via láctea expressa
abaixou o vidro
pôs meio corpo pra fora
e mandou um tchauzinho pra gente!

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O buraco imaginário


Amigo imaginário
pode ser o seu
se for ausente
displicente
pode ser o seu

Amigo imaginário
pode ser o seu
melhor amigo
sumido
pode ser o seu

Amigo imaginário
pode ser o seu
amigo inventado
desligado
pode ser o seu

Amigo imaginário
pode ser o seu
umbigo amigo
amigo umbigo
pode ser o seu

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Voo amigo


Veloz veio 
voando de folha seca
ssssssssssssssssssssss
sopra o vento

Veio outono
voa folha sopra folha
vuuuuuuuuuuuuuuuuu
varre o vento

Veloz veio
montado na ventania
friiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiioooo
não volta mais

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A Rua


Crianças Brincando - Portinari


Antes
de entrar um bilhão de automóveis em circulação
as ruas eram de terra
o que era muito bom
pra criança brincar

Antes
quando bandido roubava galinha
as ruas não tinham iluminação pública
o que era muito bom
para o esconde-esconde

Antes
de cocô ser feito na água
riozinho passava no meio da rua
e se desse enchente
melhor ainda pra gente pescar

rua era um pedaço da lua
rua era o velho oeste
o novo mundo inteiro

na rua cabia um filme de tarzan
ovos de dinossauro ou discos voadores,
na rua cada menino era rei
do reino que bem entendesse

depois inventaram o futuro
o condomínio fechado
e o porteiro eletrônico.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

São Paulo e Imperador da China



"O louco é como uma folha seca em dia de ventania.
É romântico, gosta de magia e prefere a incerteza da luz de vela ao ato inseguro de caminhar no escuro.
O louco é ousado, livre e solto.
E como um alquimista, vai desenhando seu próprio caminho, sem dar satisfação sequer à sua sombra.
Ah! Se todos fossem loucos!"

Vocês conhecem o Imperador da China? Não?
Ele é o cara mais bacana que eu já conheci em toda a minha vida.
Ele morava num hospício lá em Pequim. Isso mesmo - num hospício. Justamente por pensar que era o Imperador da China. Mas não era. Porque a China, como vocês sabem, já não tem imperador, há muitos anos.

Ele gostava de morar ali. Com ele, moravam mais uns dois Napoleões, um Elvis, e até mesmo Jesus. Ali, cada um podia ser o que quisesse. Ali tudo era normal. Tudo era sossegado.
Mas ele não era assim doido, doidão, maluco de pedra.
Também gostava de coisas que todos nós gostamos, como flores, chocolate, desenhar, ver TV.

Não tem gente que nem gosta de chocolate?
Não tem gente que vê disco voador?
Não tem gente que fala sozinha?

Eu encontrei o Chian num dia em que estava lá em Pequim fazendo uma excursão com meus amigos.
Eu acabei me perdendo deles e depois de muito andar, sentei pra descansar num banco, bem ao lado do hospício.
O Chian, que estava passeando com seu monociclo, logo que me viu veio conversar comigo e me perguntou em alto e bom português:

- Você é brasileira, não é?
- Sou sim! Como você adivinhou?
- Ah! Foi fácil! Eu sei de onde as pessoas vêm pelo cheiro.
- Pelo cheiro?
- É sim!
- Quem é você?
- Eu sou Chian, o grande Imperador da China!
(Quando ele falou isso, logo eu percebi que ele era meio maluquinho, mas não falei nada. E ele percebeu que eu percebi, mas também não falou nada)

- Então, se você é o grande Imperador da China, me conta: onde aprendeu a falar português?
- Eu não precisei aprender, eu já nasci sabendo! Nós, loucos, sabemos falar todas as línguas do mundo. As vivas e as mortas. Não precisamos aprender. Já nascemos sabendo.
- Mas, me conta: onde você mora Chian?
- Eu moro aqui nesse castelo!
(falou isso apontando para o manicômio)
- E você gosta de morar aí?
- Gosto sim, aqui é bem divertido. E você? Onde mora?
- Chian, eu moro em São Paulo.
- Em São Paulo? Que legal! E você gosta de morar lá?
- Ah Chian... tem dias que eu gosto, tem dias que não gosto...
- Como assim? Tem dias que gosta, tem dias que não gosta?
- Ah... não sei te explicar... é que lá é um lugar diferente.
- Lugar diferente? Obaaaa!!! Eu adoro desenhar lugares diferentes!
(nessa hora, aconteceu uma coisa incrível: O Chian tirou do bolso, magicamente, uma caixa de lápis de cor e uma folha de papel)
- Pronto! Pode me dizer como é sua cidade?

E agora? Olhando para o Chian, com os olhinhos brilhando, esperando que eu falasse sobre a cidade mais diferente do mundo...
O que falar sobre São Paulo a um menino tão especial?
... já sei!

"Chian, desenhe um horizonte, onde a vista não alcança.
Imagine arte, música e dança.
Um dia poluído, com o céu azul de doer.
As quatro estações no mesmo dia.
Uma cidade subterrânea, que existe, mas não se vê.
Ruas sujas, mas coloridas, de tão floridas.
Desconhecidos conversando e pessoas conhecidas se encontrando por acaso, no meio de uma multidão.
Os cheiros de restaurantes do mundo todo, misturados.
Um gari, recolhendo um jornal do chão e encontrando uma poesia, que conhecia de quando era criança.
Um poeta, que de tanto odiar a cidade, resolveu cantá-la.
Desenhe a pressa. Algo como pessoas subindo escadas-rolantes em movimento.
Shoppings, monumentos, lançamentos.
Grandes eventos.
Enfim Chian... imagine um lugar onde acontece tanta coisa ao mesmo tempo, que a impressão que se tem é que não está acontecendo absolutamente nada."

Chian, maravilhado pela descrição de uma cidade tão diferente, mostra seu desenho:
- É assim sua cidade?

(Após olhar algum tempo para o papel, primeiro com desconfiança e aos poucos, abrindo um sorriso)

- É sim Chian, parabéns! Seu desenho está perfeito! São Paulo é assim mesmo!

"Uma idéia, um ideal, muitos desejos. Incontáveis possibilidades.
Uma cidade que se reinventa a cada dia.
Existem tantas São Paulos que às vezes tropeçamos nelas.
Tantas, que podemos capturar apenas retalhos de algumas
que quando juntas, formam uma.
Somos nós que construímos essa cidade,
ao mesmo tempo em que ela também nos reconstrói."

- Ahhh Chian... agora eu tenho que ir... é que falar de São Paulo pra você me deu uma saudade...
Eu acho que vou voltar pra lá hoje mesmo!
- É mesmo? Você vai pra lá hoje? Jura? Me leva com você, por favor, por favor!
- Levar você comigo? Mas como? Você não tem passaporte, passagem, autorização...
- Ah! Isso não é problema! Eu me escondo no seu bolso!
- O que?
- É!!! Eu me escondo no seu bolso!
- O quê? Se esconde no meu bolso?
(Chian fala baixinho:)

- É!!! Eu me escondo no seu bolso!

(Enquanto falou isso, foi ficando pequenininho, pequenininho... até caber aqui, na palma da minha mão. Olhando pra Chian, escuto ele dizer:)

- Nós, loucos, podemos ficar do tamanho que queremos!
(olho pro alto, e em volta, inclusive para o meu próprio corpo, digo:)
- Nós, loucos, podemos ficar do tamanho que queremos?
(Pego Chian cuidadosamente e guardo, dentro do meu coração)

Foi assim, que eu fiz a maior loucura de toda a minha vida.
Foi assim, que eu trouxe Chian comigo, aqui pra São Paulo.
Vocês querem saber se ele gostou daqui, né?
É claro! Chian, adorou São Paulo. Tanto, que como muitos de nós, nunca mais quis ir embora.
É que aqui, aconteceu uma coisa que nem ele acreditou:

Aqui, ninguém acha que ele é louco.


Autores:

(História original de Luiz Brás, escrita com letras pretas.
A parte em roxo é de minha autoria.
A parte em vermelho é de Geraldo Ramiere
http://www.gargantadaserpente.com/coral/contos/gr_sp.shtml
A parte em azul, é de autor desconhecido)


domingo, 15 de janeiro de 2012

Poesia sem letras

Homenageou aniversários e os anos passando
Latiu e ensurdeceu o cachorro do vizinho
Gritou mais alto que a cidade barulhenta
Cantou a cidade que não lhe reconhece
Poetizou aquilo que não tem conserto
Torceu pra um time que é só catraca
Amou quem ria de sua desgraça
Escolheu o amigo mais egoísta
Elogiou quem era só crítica
Riu das piadas pra disfarçar
Esperou o tempo passar
Deixou a cidade pra lá
E enfim
silêncio

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Não entendi

Quando eu era criança adorava ouvir histórias mas nunca entendia o final. E o engraçado é que no dia seguinte esperava novamente o horário da contação para não entender nada tudo de novo.

Também os livros pareciam sem graça. Lia os poemas e as poesias com entusiasmo, mas ao final das histórias era sempre um tchibum, quá quá quá, que nem dava pra saber o que queria dizer.
Até hoje a vida é meio assim: Um tal de viver histórias que terminam sem graça, ouvir outras que nem sei como terminaram... Tem personagem que aparece depois some sem nem se despedir, mocinho que nem mocinho era. Bandido que põe medo mas nunca aparece... 

Tem coisas na vida que eu não entendo! Vai ver que é por isso que adulto conta um montão de histórias sem graça que dá vontade de nem prestar atenção. Só os desenhos é que se salvam.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Alô


Papai tinha namorada
mas a mamãe não sabia
Mamãe tinha namorado
e pensava que era o papai

Papai sentia amor
mas não pela mamãe
Mamãe sentia amor
pelo papai e mais ninguém

Quando mamãe descobriu
que o telefone do papai
Tinha um número diferente
do que ele dava pra gente

Pensou, chorou, chorou
e a partir daquele dia
Passou a se ligar
na mentira que vivia

Papai se desculpou
tentou nos explicar
Mas hoje o que sobrou
Foi uma casa sem lar

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Cada coisa!

Vamos cantar?
Leio o livro enquanto pulo
Salto e como macarrão
Chupo o molho entorto a faca
Na toalha uma desgraça
Cotovelo escorregão

Na TV um programinha
Na internet um programão
No baleiro oferta farta
No ipod uma balada
Telefone de montão

Chega a noite tô sem sono
Ligo a televisão
Meu canal hoje tá chato
Mudo mudo e não me acho
Na orelha o som é bom

Hoje a fada do soninho
Traz pra nós uma lição
Pra dormir bem sossegado
Tem que estar bem antenado
Na caminha e no colchão

Quem faz tudo ao mesmo tempo
Põe sorvete no macarrão
Muda o canal do livro
Come bala de revólver
E procura chifre em cabeça de cavalo

Entendido?